quinta-feira, 8 de maio de 2008

[Aspie] Napoleão Dinamite: um heroi asperger?

Poster de napoleão dinamite Recentemente assisti o filme "Napoleão Dinamite" na TV a cabo (procure por "Napoleon Dynamite" na programação) e fiquei impressionado! O filme é completamente desconhecido no Brasil (nunca passou nos cinemas e é virtualmente muito difícil de alugar ou comprar, tendo sido parcamente distribuído apenas em DVD no final de 2006), mas possui uma particulariedade muito importante: os seus personagens centrais apresentam sintomas claros da Síndrome de Asperger.

O filme não tem a menor intenção de esclarecer o problema (nem toca no assunto), mas com certeza é muito interessante para se identificar em alguns comportamentos e rir dos próprios problemas (o que de longe é a melhor postura)! O grande segredo para apreciar o filme é não se ofender com as idiossincrasias do Napoleão, mas reconhecer-se no seu esteriótipo. Além do mais, o Napoleão é o grande heroi da história! :D

Na verdade o filme é de humor negro (i.e. politicamente incorreto), bem ao estilo das produções da MTV, sendo classificado como "comédia dramática" no Brasil. O roteirista e diretor é o Jared Hess, o mesmo de "Nacho Libre".


O filme é de 2004, e ao contrário do Brasil, provocou muita identificação ao redor do mundo. São inúmeros os fans do filme que o referem como "um verdadeiro meio de vida". O ponto fundamental é que o heroi da trama apresenta as idiossincrasias características da síndrome de Asperger (atitudes e reações completamente "alienígenas" para as pessoas normais), mas enfrenta a vida com muita coragem em nome do que considera certo e das pessoas que gosta. Esta coragem e superação do Napoleão comove as pessoas em geral. Essa popularidade fica evidente nas crianças com fantasias e bonecos dos personagens do filme. Desta forma, o filme (mesmo de humor negro) é um hino a diferença e deveria ser visto por todos. Passa longe de ser apenas mais um entre os milhares de filmes sobre adolescentes no colégio, ou ainda, de ser apenas uma escárnio delirante sem sentido como os filmes do Tom Green... Esse filme tem "alma"...

Como bem resume Flávia Yacubian, Napoleão é "descompassado, em todos os sentidos, com qualquer possível atitude razoável que um garoto normal pode ter" (assim como são percebidos os portadores da SA). Dentre as atitudes estranhas do personagem, Flávia discute: jogar um boneco preso por uma linha de anzol para ser arrastado pelo ônibus, guardar comida no bolso, praticar dance moves de duas décadas atrás, usar botas de neve num calor absurdo, apoiar o amigo na entrega de um bolo para conquistar uma patricinha, comprar uma peruca de mulher para o mesmo amigo quando este raspou a cabeça por impulso num dia de calor... Mas, vamos parar neste ponto: ele comprou uma peruca para o amigo com o dinheiro ganho depois de 6 horas manipulando galinhas imundas. Não só isso, mas pelo mesmo amigo ele dançou na frente de todo o colégio e enfrentou o malvado da escola. Em outros momentos do filme ele vai conversar com as garotas, não admite ser roubado na escola, enfrenta as pessoas de sua família, tenta até mesmo viajar no tempo por seu tio egoísta e convida uma das mais bonitas da escola para o baile...

Um aspecto importante é que percebe-se que Napoleão "tenta simular" atitutes "normais" de um adolescente revoltado, como forma de proteção, mas faz isso sem perder o orgulho de suas habilidades, dos seus interesses e de tudo o mais que o torna único. Desde seu terno até seu esporte preferido.

Inclusive, a dança de napoleão para a música Canned Heat do Jamiroquai é um dos pontos altos do filme (abaixo) e, por sua demonstração de coragem, ele vira uma espécie de herói. Existem inúmeros vídeos (1, 2, 3, 4, 5) no youtube imitando seus passos de dança e até mesmo uma propaganda do IPod... As camisetas "vote for pedro" também viraram uma mania e podem ser compradas pela Internet. Enfim, não deixe de ver... :D

segunda-feira, 5 de maio de 2008

[Aspie] Aspie Quiz

Foi publicada a tradução para o português que realizei do Aspie Quiz. Ao contrários dos usuais "testes de Internet", este é um trabalho sério conduzido por Leif Ekblad sobre a avaliação de perfis do espectro altista, focado na síndrome de Asperger.

O "quiz" consiste de um sistema especialista baseado em coeficientes de correlação com diversos perfis de neuro-diversidade tais como dislexia, esquizo-típicos, etc... (veja a metodologia em http://www.rdos.net/eng/aspeval/).

Assim como eu, Leif trabalha e pesquisa na área de tecnologia mas tem colaboração com outras linhas, e particular interesse pela síndrome de Asperger (por razões óbvias). Estive me correspondendo com o mesmo, e estou inclusive ajudando livremente em um artigo a ser submetido, provavelmente próximo mês, em uma revista Elsevier de psiquiatria.

Neste ponto, gostaria de convidar a todos (inclusive indivíduos neurotípicos), e principalmente as pessoas diagnosticadas clinicamente com síndrome de asperger, a participar da pesquisa. Quanto mais pessoas realizarem o teste, melhor sua calibração e seu desempenho na análise preliminar de pessoas com a síndrome.

Outro aspecto interessante é que o teste seja repetido ao longo dos anos de forma a avaliar a progressão dos portadores.

Por faver, distribuam amplamente o link para o teste: http://www.rdos.net/br/.

domingo, 4 de maio de 2008

[Opinião] Ressonância em metrônomos

Eis um belíssimo exemplo de ressonância em ondas planas.



Pessoalmente, fico sempre fascinado com a beleza da natureza.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

[Opinião] Sexo, Drogas e... Matemática

Encontrei um "interessante" artigo no New York Times sobre sexualidade (The Myth, the Math, the Sex). No mesmo, o autor refere que "pesquisadores britânicos" levantaram que, em média, os homens ingleses declaram terem tido 12,7 parceiros heterosexuais durante a vida, enquanto as mulheres apenas 6,5.

Tal estatística vai de acordo com a noção estereótipada que os homens são mais promícuos, pois procuram ter o máximo de parceiras para disseminar seus genes, enquanto as mulheres são mais reclusas pois o alto investimento da maternidade faz mais adequado ter um parceiro fixo, que ajude a criar a prole...

Ou seja, os velhos papeis do "garanhão" e da "moça de família". Correto?

Errado! Se as amostras foram representativas na mesma população e as relações são heterosexuais (i.e. um homem e uma mulher), então devem existir 12,7/6,5 = 1,95 mulheres para cada homem. Como a probabilidade de nascimento é de 50% para cada sexo, a conta não fecha!



Matematicamete, o número médio de parceiros heterosexuais durante a vida deve ser o mesmo para ambos o sexos!



Logo, a pesquisa está errada! (e o mito da recatada retração sexual feminina derrubado!)

Verdade seja dita, não consegui encontrar a tal pesquisa britânica referida no artigo! Como não há nenhuma referência além de "pesquisadores ingleses" (sabe-se lá o que quer dizer isso...), desconfiei da fidelidade desses dados...

Porém, antes de queimar de vez a Impresa pela falta de coerência em prover rastreabilidade das informações, encontrei o artigo FRYAR,C.D. et al., "Drug use and sexual behaviors reported by adults: United States, 1999-2002", Adv Data, v.384, n. 23, p.1-14, 2007. Neste último artigo, os homens americanos declaram terem tido 7 parceiros heterosexuais durante a vida, enquanto as mulheres apenas 4. Dessa forma, deveriam existir 7/4= 1,75 mulheres para cada homem. Por sua vez, este resultado rastreável converge com a tal "pesquisa britânica"! Assim, realmente existe algo de muito errado!

No artigo no New York Times, o doutor Fryar se defende dizendo que os homens podem ter tido relações sexuais fora do país (e.g. em viagens) ou com prostitutas (que não entraram na amostra). Ou ainda, logicamente, que os homens notoriamente super-estimam o número de parceiras enquanto as mulheres notoriamente sub-estimam! Pessoalmente, acho esta última hipótese muito mais plausível!!!

Mas nem tudo está perdido! Também encontrei este excelente artigo Gómez-Gardeñes, J., et al. "Spreading of sexually transmitted diseases in heterosexual populations", PNAS, v. 105, n.5, p.1399-1404, 2008, que apresenta distribuições similares para as distribuições de parceiros ao longo da vida entre homens e mulheres (inclusive para Suécia, Reino Unido e Zimbabue, e com resultados semelhantes nos três países!!!). Ou seja, é possível fazer esta pesquisa com resultados coerentes!

Dai levanto as seguintes hipóteses para a distroção de FRYAR et al. (2007):
  • A amostra da população não foi adequada.
  • Não houve um treinamento prévio dos entrevistados sobre a definição de um "parceiro sexual" (e.g. um parceiro de um único intercurso ou um namorado estável a mais de um ano...).
  • Os americanos mentem muito... hehehehehe...
Ademais, estatisticamente, sua namorada teve o mesmo número de parceiros que você... Podes crer! :D